A HISTÓRIA DE RYAN PATRICK HALLIGAN

DEPOIMENTO: A HISTÓRIA DE RYAN PATRICK HALLIGAN 


Oi, gente! Venho aqui hoje numa tarefa especial, triste, mas extremamente séria.
Se você é vítima de bullying, está muito deprimido, pensando sobre suicídio...leia esse texto.
Sei que ficou comprido, mas é algo tão sério que não dá pra apenas simplificar.
É importante que conheçam essa história, a história real de um garoto chamado Ryan, contada por seu pai, John Halligan, que gentilmente permitiu que traduzisse para vocês:


Nossa vida nunca mais será a mesma, como era antes do dia 7 de Outubro de 2003.
Não existem palavras para descrever o choque e horror de encontrar seu filho de 13 anos morto após ter se suicidado, num típico dia de escola que deveria ter começado.

Desde cedo existiram preocupações com a fala de Ryan, sua linguagem e desenvolvimento motor. Ele recebeu uma educação especial até a quarta série.

Na época em que ele começaria a quinta série, foi recomendado que seguisse a quinta série tradicional.

Enquanto ia crescendo, Ryan ficava mais alerta de que os outros alunos eram mais inteligentes que ele. Isso o incomodava muito.

Foi durante a quinta série que começamos a conhecer o bullying.
Um certo aluno e seus amigos provocavam Ryan pelo seu desempenho acadêmico e sua coordenação motora. Mas como ele não sofria bullying físico, nós o aconselhamos a ignorar, sair e lembrar que ele tinha bons amigos com os quais podia contar.

Nós chegamos a levá-lo para fazer terapia, mas no final da quinta série, ele aparentava estar se sentindo bem, e baseado no aconselhamento do terapeuta, paramos a terapia.

A escola de Ryan na sexta série, Albert D.Lawton, tinha da sexta a oitava série no mesmo prédio. Era uma escola maior, o que para muitos que fazem essa transição é bem assustador.

O problema do bullying aparecia e desaparecia durante o primeiro ano na escola, mas nunca ao ponto de nos causar uma maior preocupação. Novamente, tínhamos o pensamento convencional de que era parte do crescimento.

A situação piorou muito para ele durante a sétima série. Foi nesse ano também que ele desenvolveu um enorme interesse por computadores e jogos de computador.

Ele ganhou seu primeiro computador de acordo com as regras da casa para ter um uso correto.

Como Ryan nunca teve problemas disciplinares e saia com amigos muito bons, nunca tivemos a preocupação de que ele não estivesse respeitando as regras.
Mais tarde descobrimos que isso era um pensamento ingênuo de nossa parte.
Cyberbullying nem passava pela nossa cabeça como um dos itens a serem discutidos.
Nossa lista de regras acabou sendo terrivelmente inadequada.

Em Dezembro de 2002, o problema com o bullying reapareceu num nível significante.
Numa tarde ele desmoronou numa sessão de lágrimas na mesa da cozinha.
Ele perguntou aquela noite se podíamos trocá-lo de escola ou dar aulas para ele em casa.

Você não pode imaginar o sentimento de não saber como ajudar que um pai sente nessa situação- dividido entre querer ser seu guarda-costas o dia inteiro e sentir que ele precisa(novamente) aprender a lidar com essa situação como parte do crescimento.
Eu disse” Pronto, Ryan. Já chega! Vamos falar com o diretor e dar um fim nisso de uma vez por todas!”

Logo após, Ryan disse “Não, pai, por favor, não faça isso. Só vai piorar as coisas. Vejo isso acontecendo o tempo todo”.
Ao invés disso, ele pediu para que o ajudássemos a aprender a lutar para se defender daquele e dos outros alunos da oitava que tentassem atacá-lo.

Como gostaria de poder voltar no tempo. Que nos concentrássemos em porquê Ryan não confiava na direção da escola para resolução do problema.

Naquele natal de 2002, demos para ele um kit de treinamento de boxe. Após o jantar, todo fim de tarde nós praticávamos juntos. Essas são algumas das melhores lembranças que tenho de estar junto de Ryan.
Conversávamos sobre várias coisas durante esses treinos, incluindo estratégias de lidar com o bully e seus amigos.

Nós recebemos um telefonema da assistente do diretor depois de um dia de aula em Fevereiro de 2003. Ele havia separado uma briga entre Ryan e seu bully.

Quando encontramos Ryan caminhando de volta para casa, ele estava assustado, mas disse que ele deu uns bons socos e se sentia bem por ter se virado sozinho. Ele disse que aquele garoto provavelmente não o provocaria mais.

Com o passar do mês, ele parecia estar muito bem.
Pelo resto da sétima série, continuei checando Ryan. Suas respostas eram sempre as mesmas...que desde aquela briga o bully tinha deixado ele em paz.

Um dia, a resposta de Ryan nos surpreendeu. Disse que agora era amigo de seu bully.
Não gostamos dessa notícia. Nós o alertamos para se cuidar pois aquele garoto o prejudicou por muito tempo. Desencorajavamos aquela amizade, mas decidimos não se meter, sentindo que tinha idade suficiente para tomar suas próprias decisões e aprender com seus erros.

Alguns dias após seu funeral, enquanto ficava no seu quarto, com a cabeça baixa na mesa dele, me perguntando “por que?” diversas vezes, decidi olhar seu livro do ano da sétima série e olhar sua foto.

Quando abri a primeira página, meu coração gelou. Enquanto virava as páginas, descobri que Ryan tinha desenhado muitos rostos e escrito comentários ruins. O rosto de seu bully tinha todo tipo de coisa escrita em cima, e o mesmo nos rostos de seus amigos. Ficou claro para mim que algo deu errado na escola.
Mas porque ele estava furioso com tantos alunos?

Resolvi me logar no AOL IM(tipo um MSN na época) . Graças a Deus ele seguiu a regra da senha. Rapidamente, estava online .

Recebi várias mensagens “Quem é você?” “O que está fazendo na conta do Ryan?”

“Esse é o pai do Ryan, e estou aqui apenas para descobrir se alguém sabe qualquer coisa que possa explicar porque Ryan fez o que fez.”

Um colega de aula queria que soubesse de algo. Ele veio descrever como Ryan dividiu algo muito especial com o bully- um detalhe pessoal sobre um exame médico que ele fez no outono daquele ano, porque minha esposa achou que ele estava com apendicite e correu para levá-lo na emergência. Conhecendo seu senso de humor, ele deve ter achado que era uma história engraçada de se contar. É o tipo de história que ele se divertiria contando.

O bully espalhou um boato na escola de que Ryan gostou do que o médico fazia durante o exame, e então ele era gay. De acordo com outros alunos, esse boato foi espalhado online. Naquele dia, Ryan foi ridicularizado e humilhado por muitos, mesmo por alunos que nunca tinham feito nada para ele.

Nunca recebemos uma ligação da escola sobre isso. E Ryan também nunca nos contou nada.

Quando questionei a política da escola e procedimento sobre avisar os pais sobre um aluno estar visivelmente triste na escola, recebi uma resposta que basicamente dizia: “ nós aconselhamos os alunos tristes dentro do conceito da situação e fazemos o julgamento de entrar ou não em contato com os pais”.

Eu respondi “Quando você encontrar um aluno visivelmente triste, independente do motivo, avise seus pais ou responsáveis”.

Conhecendo meu filho, ele provavelmente estava muito envergonhado de contar para os pais o que havia acontecido.Ao invés disso, ele manteve a dor por dentro e passou muito tempo daquele verão no seu quarto, no computador.

Era um verão chuvoso em Vermont, então era difícil perceber se era um sinal de algum problema.

Após sua morte, encontrei arquivos de todos os jovens que ele conversou desde Julho de 2003 até alguns dias antes de sua morte.

Descobri que Ryan era amigo de pessoas que não conhecíamos pessoalmente.
Duas questionavam o valor da vida. Esse jovem implantou em Ryan sua idéia macabra de pensamentos e encorajou seu suicídio.

Havia uma curto diálogo entre os dois duas semanas antes do suicídio- “Essa é a noite, acho que vou fazer hoje. Você lerá sobre isso no jornal amanhã!” E o outro garoto respondeu “É questão de tempo!”
Você não pode imaginar a raiva que senti ao ler isso.

Existiam também evidências de cyberbullying por alguém continuando o boato sobre aquilo de “gay”.

Também descobrimos que uma das garotas populares da escola fingia no computador que gostava de Ryan(por quem ele tinha uma paixão na época, encontrei conversas onde ele contava para outro garoto quanto amava ver ela na piscina).
Ela espalhou as conversas que tinha com Ryan entre outros alunos para humilhá-lo.
Mais tarde, ela disse a ele que jamais iria querer algo com um perdedor. Ele respondeu que garotas como ela que faziam ele querer se matar.

Nós o lembrávamos do nosso acordo antes da escola começar, que o computador no quarto seria removido se o tempo no computador tivesse um impacto negativo no seu boletim.

Uma semana antes do boletim, ele me procurou chorando, me dizendo que não se sairia bem. Ele disse que eu ficaria muito desapontado. Durante a conversa, ele disse que era um perdedor e que não conseguiria nada, e perguntou “qual o sentido da vida?” O abracei com lágrimas e contei o quanto tinha orgulho por ele ter tido a coragem e maturidade de me contar sobre seu desempenho. E lembrei o quanto o amava e que ser o melhor da classe não era a forma mais importante de inteligência.

Eu disse que me sentia muito mal comigo quando era mais novo, duvidando da minha habilidade de me dar bem na vida. Disse que também tinha pensamentos de acabar com tudo para escapar da dor na época. Mas contei para ele”olha quanta alegria eu teria perdido. Que não teria experienciado o amor de minha família e todos os bons momentos que vivemos juntos”.

E pedi que ele me prometesse que sempre iria falar comigo primeiro sobre seus sentimentos. Eu disse”Meu coração se partirá em um milhão de pedaços se algum dia perder você”. Nos abraçamos. Disse sorrindo “não irei deixar você rodar na oitava série”. Nós dois rimos e nos abraçamos novamente!

Ninguém fala abertamente sobre suicídio e depressão de adolescentes.
A sociedade prefere pensar que isso só acontece em famílias muito desestruturadas.
Meu cérebro bloqueava imediatamente a possibilidade disso ocorrer na minha família. Por que ele faria isso? Naquele momento, pensava que o único problema era o boletim fraco que estava por vir.

Outra descoberta após a morte de Ryan foi que ele era maltratado por uma professora.
Um aluno disse que ele era humilhado com freqüência na frente da turma por demorar para responder ou esquecer de copiar o tema.
Outro aluno adicionou que naquele dia, ela o tratou tão mal que quase foram parar na sala do diretor, mas o medo de uma retaliação os impediu de agir.

Para nós, esse foi outro fator contribuinte para a depressão do meu filho.
Existe uma diferença entre ser um professor exigente, e ser um bully.
Usar táticas de bullying como humilhar, ridicularizar ou intimidar não tem justificativa de serem usadas na sala de aula.

Não temos dúvida de que o bullying e o cyberbullying foram fatores significantes que geraram a depressão de Ryan.

Decidimos pegar essa intensa dor e utilizá-la de forma produtiva, ajudando outros jovens a evitarem que tenham o mesmo destino que nosso filho.

Nada trará nosso Ryan de volta. Nada jamais irá curar nossos corações partidos. Mas temos esperança que, mostrando esses detalhes pessoais dessa nossa tremenda perda, outras famílias serão poupadas de uma sentença perpétua a esse tipo de dor.
Por favor, não esqueça a história de Ryan e a fragilidade da adolescência.


___________________________________

Site criado devido ao infeliz acontecimento: http://www.ryanpatrickhalligan.com/

Um comentário:

  1. E um texto muito grande minha professora fez eu cópia tudo tadinho do Ryan

    ResponderExcluir